CONHECENDO A ASSISTÊNCIA SOCIAL NO BRASIL – PARTE IV:
O Financiamento da Política
Acácio
de Carvalho
Março de
2009
Jaboatão
dos Guararapes-PE
"Estou confiante em
prever o colapso do capitalismo e o início da história. Algo vai mal na máquina
que converte dinheiro em dinheiro, o sistema bancário entrará em colapso total,
e nós vamos ter que fazer permutas para permanecer vivos".
Margaret Drabble, escritora
britânica (frase dita em 1993, há 16 anos).
Iniciamos 2009 convivendo com a maior crise do capitalismo
pós-guerra. A retração do produto interno bruto no último trimestre do ano
passado no Brasil foi de 3,6%. Quais as nossas perspectivas? Pernambuco registrou em 2008 o maior investimento
de sua história em programas socioassistenciais – Só em recursos federais e
estaduais foram aplicados quase R$ 2 bilhões, beneficiando praticamente a
metade dos cidadãos pernambucanos, pessoas em vulnerabilidade e risco. De onde
vem esse dinheiro? Como é feito o financiamento da política de assistência
social? Esse dinheiro é muito ou pouco? São essas questões, caro leitor, que
pretendo responder. Embarque comigo na viagem de conhecimento da assistência
social no Brasil e saiba como é feito o financiamento dessa importante política
pública.
Já discutimos bastante a dívida social brasileira e a
necessidade de políticas afirmativas para minimizar as desigualdades dos vários
brasis. É o Brasil-nordeste que tem renda dois terços menor que o Brasil oficial,
o Brasil-mulher que recebe 30% menos pelo mesmo trabalho, o Brasil-negro que
tem menor acesso ao ensino superior, o Brasil-semi-árido que tem maior
mortalidade materno-infantil e muitos outros brasis injustos e aviltantes.
Países ditos desenvolvidos convivem com uma rede social capaz de proteger até
os seus animais de rua e já era hora de um governo levar a sério os artigos
constitucionais que tratam do tema no Brasil. Critique-se a política nacional
de transferência de renda, mas um fato é inconteste: nosso país atingiu a meta
de redução de pobreza dos Objetivos do Milênio, sete anos antes do prazo
previsto, que é em 2015.
O SUAS – Sistema Único de Assistência Social prevê o
co-financiamento da política com a participação dos três entes federados:
união, estados e municípios. Essa política deve ser não contributiva, ou seja,
os cidadãos brasileiros não pagam nada por ela. No texto constitucional: “A
assistência social será prestada a quem dela necessitar, independentemente de
contribuição à seguridade social” (CF - Art. 203).
Para operacionalizar o financiamento do SUAS foram criados
fundos específicos em cada uma das esferas do poder executivo, o fundo
nacional, os fundos estaduais e os fundos municipais. Estes fundos são
controlados pelo gestor do poder executivo, normalmente o ministro e os
secretários de estado e de municípios. O orçamento deve ser elaborado por
ocasião do PPA – plano plurianual, no primeiro ano de gestão do chefe do
executivo e revisto anualmente através da LOA – lei orçamentária anual. A
constituição faculta aos estados e distrito federal um investimento de cinco
décimos porcentuais de sua receita tributária líquida em programas de inclusão
e promoção social (CF – Art. 204 – parágrafo único).
Os recursos desses fundos estão subordinados à aprovação dos
conselhos de assistência social, também nos três níveis de governo, através dos
planos anuais e dos relatórios de gestão. Cada conselho tem formação paritária
entre membros do governo e da sociedade civil e a presidência deve ser
alternada. Em síntese, além das fiscalizações das controladorias internas, dos
tribunais de contas e do Ministério Público, os gestores da assistência devem
conviver com o controle social, representado pelos conselhos. Cada conselho
deve realizar eleições bienais livres com as organizações de assistência
social, os trabalhadores do setor e os representantes dos usuários. As eleições
são fiscalizadas pelo Ministério Público, e dela participam conselhos de classe
(psicólogos, assistentes sociais), sindicatos, instituições sem fins
lucrativos, organizações não-governamentais, movimentos sociais, etc.
O orçamento federal 2009 para a assistência é de R$ 33
bilhões, dos quais R$ 12 bilhões são do Bolsa Família. Se pensarmos em 11
milhões de famílias beneficiadas (o público em vulnerabilidade e risco no
Brasil), teremos cerca de 44 milhões de cidadãos contemplados com a rede de
proteção social. Um em cada quatro brasileiros precisa da assistência social.
Isso representa pouco mais de R$ 60 por mês para o brasileiro excluído das
políticas públicas. É muito? Deixo o leitor refletir naquele menino de rua
explorado comercial e sexualmente ou naquela mulher agricultora do semi-árido,
que não conhece escola nem posto de saúde e que enterra seus filhos em
cemitérios clandestinos, pois certas vezes, o estado não sabe quem nasceu, nem
muito menos quem morreu nos grotões tórridos e inclementes de nosso Brasil.
Em Pernambuco, este governo em apenas dois anos de trabalho,
quintuplicou a média histórica de investimentos socioassistenciais. De 2001 a
2006 eram aplicados, em média, cerca de R$ 4,7 milhões anuais com recursos
exclusivos do estado, sem contar fontes e convênios federais. Pois bem, em 2007
o investimento foi de R$ 6,2 milhões (30% maior) e em 2008 foram aplicados R$
23,0 milhões (390% maior). É pouco para as necessidades de nosso povo, mas
mostra a determinação do executivo estadual em ampliar os direitos sociais dos
pernambucanos. São programas para retirar as pessoas do Bolsa Família, para
proteger e assegurar direitos dos moradores de rua, cozinhas comunitárias com
refeições a preços populares, financiamento de equipes de assistentes sociais
nas comunidades e muitas outras ações que beneficiam diretamente 50 mil
famílias. Se houve uma receita de mais de R$ 6 bilhões de ICMS em 2008, ainda
estamos um pouco abaixo do recomendado pelo Constituição (situamo-nos com
0,38%, enquanto a Constituição sugere 0,5%).
A boa notícia fica por conta da orientação estratégica do
governo para 2009: apesar do ano duro, difícil, o Governador Eduardo Campos, ao
contrário de outros, resolveu não contingenciar o orçamento. Estão previstos R$
34 milhões em 2009 (620% maior que os governos anteriores), e isso representa
exatamente 0,5% das receitas tributárias líquidas previstas para este ano. O
secretário Roldão Joaquim deu a ordem para seus secretários executivos: buscar
fontes alternativas de recursos, sejam federais ou internacionais. A meta é
fechar o governo em 2010 com um investimento na assistência social dez vezes
maior do que encontramos no início. Como diria a propaganda: é com trabalho que
Pernambuco se transforma!
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